Dois monges

18/10/2019

Na época de Xaquiamuni Buda, todos os monges e monjas faziam o voto de castidade e de celibato. Por isso, era proibido que tocassem pessoas do sexo oposto.

Pois estavam dois monges para atravessar um rio de forte correnteza, quando encontraram na margem uma jovem que pedia auxílio. Ela estava com graves problemas a resolver do outro lado da margem e sabia nadar. Temia ser levada pela correnteza forte. Pediu aos monges que a ajudassem.

O primeiro monge se recusou, dizendo que não poderia tocá-la. E atravessou o rio sozinho. O segundo monge se apiedou e deixou que ela se apoiasse em seu braço. Assim chegaram até a outra margem. A jovem agradeceu e se foi.

Os dois monges continuaram caminhando lado a lado. O primeiro, de cara fechada, nem mesmo olhava para o seu companheiro. Até que este, finalmente, perguntou:

- Por que você está tão irritado?

- Por quê? Porque você tocou uma mulher, quebrou os votos monásticos. Você segurou a moça.    

- Sim - disse o outro -, mas eu a larguei em seguida . Você é quem continua a carregar aquela jovem.

Quantas coisas, situações, sentimentos, emoções, carregamos desnecessariamente?

No momento em que houve a necessidade de segurar a jovem para atravessar o rio, o monge se disponibilizou, sem nenhum outro pensamento a não ser o de ajudar um ser humano necessitado. O outro, preso às regras, não foi capaz de ajudar e, muito pelo contrário, carregou em si a jovem por horas e horas junto com a irritação e o mau humor.

Os preceitos de Buda foram criados pelo próprio Buda durante a vida comunitária. Revelam o que seria mais adequado para que os/as praticantes se libertassem das amarras e das paixões mundanas. Entretanto, algumas pessoas se apegam tanto às regras que acabam quebrando as próprias regras, pensando que as estão mantendo.

Essa história reflete bem esse caso. O monge deixou a jovem na margem do rio e o outro a carregou por horas. Assim fazemos com emoções e sensações. Algumas benéficas e outras prejudiciais. Remoendo emoções e sentimentos, acabamos nos amargurando e criando sentimentos desnecessários. Como diz o psiquiatra Olvidio Waldemar, de Porto Alegre: "A vida nos dá flechadas. Por que enfiar outras flechas sobre a flechada da vida?".

Dor, sofrimento, perdas existem. Por que ficar cutucando as feridas mais e mais? deixemos que cicatrizem e apreciemos a vida estando presente onde estivermos e fazendo o bem a todos os seres.

Livro: 108 contos e parábolas orientais, Monja Coen.

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